PELA HORA DA MORTE Champanhe e "bem-velado" em funeral VIP de R$ 40 milMônica Bergamo - Ilustrada - Folha 06 de setembro 2008Pessoas sorrindo e bebendo no velório? Foi assim a inauguração, na noite de anteontem, da Funeral Home, divulgada como "a primeira casa funerária de luxo de SP" -ainda, felizmente, sem clientes.
Entre flûtes de champanhe e copos de uísque black label, os convidados circulavam pelo casarão neocolonial de dois andares onde serão recebidos os futuros fregueses -a casa promete fazer até quatro funerais simultâneos, ao preço de até R$ 40 mil. "Com certeza vai voltar o glamour dos velórios. É a última festa do falecido, então por que não fazer uma despedida alegre?", diz a dona do empreendimento, Milena Romano, de vestido azul da Daslu. "É melhor vir pra cá do que para o cemitério do Araçá, que tem até rato e você nunca sabe se entrou no velório certo."
Ela é herdeira do grupo ABC, que tem negócios na área de transporte, fast-food e um cemitério em Mauá, "uma coisa new age, com pirâmide, cachoeira", nas palavras da socialite Perla Naum, organizadora do coquetel de lançamento- que teve purê de mandioquinha com ovas de salmão e nhoque com mascarpone, berinjela e parmesão, pratos do bufê França, que firmou parceria com a casa. "Mas também dá para chamar o Toninho [Mariutti] ou, se o defunto for moderno, a Neka [Menna Barreto]", esclarece Perla.
O velório básico, com direito a café, chá, água e bolachas doces e salgadas, custa R$ 4.000. O mais caro, para fechar a casa com exclusividade, sai dez vezes mais caro. "O preço pode até ser pela hora da morte. Mas tem gente que vai querer", diz Milena Romano. Quem, por exemplo? "Não vou dizer! Não vou matar quem está vivo!" E quem não entra ali nem morto? "É proibido proibir. Detesto discriminar, rotular, estigmatizar", diz Perla Naum. "Querendo nosso serviço, estamos de portas abertas" diz a empresária Milena Romano.
As quatro salas de velório têm nome de cidades. Na "São Paulo", há sofás de camurça, lareira e um anexo externo com mesas, cadeiras de madeira e ombrelones. Na "Roma", predomina o vermelho das poltronas. Os móveis da "Paris" são forrados por tecidos adamascados e shantung. "Nova York" tem saída para uma varanda, com elevador, por onde também passará o caixão para que ninguém o veja. Perla chama as áreas de convivência de "sala do teretetê, porque a pessoa não vai ficar o tempo todo em cima do falecido".
Roberto Egydio Martins, diretor da A.S. Vitae, corretora de seguros, e filho de Paulo Egydio, ex-governador de SP, se dizia encantado. "Isso aqui é maravilhoso. Vou incluir esse funeral nas apólices de seguro de vida acima de R$ 500 mil". A vereadora Mara Gabrilli, candidata à reeleição pelo PSDB, passeia entre "São Paulo" e "Roma" escoltada por três amigas que distribuem seus santinhos. "Sou amiga da Milena desde pequena e ela vai mudar o conceito de morte em SP, vai deixar o velório uma coisa fashion", diz. Para ela, o local pode até não despertar o desejo de voltar, "mas, se tiver que voltar, melhor aqui do que naqueles subsolos de hospitais".
"Quero ser o primeiro [a ser velado], mas vou ter que contratar os figurantes do Silvio Santos, porque não tenho prestígio para trazer nem cinco pessoas", dizia o corretor Ricardo Capote Valente Neto, amigo da família de Milena e também de Perla Naum. "O morto ficará feliz de ver todo esse conforto". Perto dele, uma TV de plasma, que nos dias de velório poderá mostrar fotos e imagens do falecido, exibe um vídeo em que Sarah Brightman e Cliff Richard cantam a música do "Fantasma da Ópera".
O corretor diz que já escolheu a trilha de seu funeral e emenda uma paródia do clássico de Pepino Di Capri: "Champanhe, pra beber no enterro/ Me vê um salgadinho pequeno/ Café, só depois de amanhã...". Na saída, os convidados recebem, como lembrança, bem-casados embrulhados em papel preto, que Milena, de improviso, batiza de "bem-velado".
A proprietária da Funeral Home,
Milena Braga Romano, durante a
inauguração do espaço para velório VIP"Bem -velado"? Morri.
Ao menos o whisky é a rigor como pede a ocasião:
black label. Mimato.
E ao invés de VIP não deveria ser VIC "very import corpse"?
Não está fácil para ninguém, até o funeral está pela hora da morte...
Para ler ouvindo
Nego véio quando morre.
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