Camp Rock aprendeu com High School Musical a ser moderninho para agradar à garotada, e
parecer certinho para os pais
Sérgio Martins
Divulgação |
Jonas Brothers e Demi Lovato (à esq.): astros da música pop |
Mitchie (Demi Lovato) é uma menina pobre e com talento para a música. Seu sonho é freqüentar o Camp Rock, acampamento de férias onde crianças ricas aprendem a ser astros do pop. Em parte, ela realiza o sonho: sua mãe é contratada como cozinheira do lugar e leva a filha como ajudante.
Para inveja das outras meninas, ela faz amizade com Shane Gray (Joe Jonas), roqueiro adolescente que foi mandado à força ao local por causa de suas atitudes rebeldes. Mitchie inventa que sua mãe é uma poderosa executiva da indústria musical. Logo, porém, perceberá que uma mãe humilde, mas amorosa, vale mais que todo o poder do mundo – uma lição que se estenderá para a rival, Tess Tyler (Meaghan Jette Martin), filha de uma cantora de sucesso que não dá bola para ela. Reza o senso comum que aí está a chave do sucesso de High School Musical e de Camp Rock, que estréia neste domingo no Disney Channel e com o qual a Disney dá continuidade à fórmula: tais atrações são lições de moral disfarçadas de entretenimento.
Uma mirada mais atenta, contudo, revela o exato oposto. High School Musical e Camp Rock fazem um tremendo sucesso porque são entretenimento disfarçado em lição de moral. Ser "rebelde" e "moderninho" para agradar ao público-alvo, e certinho o suficiente para ter a audiência estimulada por pais e mães – essa, sim, é a sacada da Disney.
Desde seu lançamento nos Estados Unidos, no fim de junho, Camp Rock vem causando um pequeno alvoroço. Na noite de estréia, foi visto por 9 milhões de pessoas, e o disco com a trilha sonora alcançou a terceira posição na parada. Mas ainda não se tornou uma ameaça a High School Musical (veja entrevista abaixo com seu diretor, Kenny Ortega), cujo segundo episódio, que detém o recorde de audiência da história da TV paga americana, com 17 milhões de espectadores, foi o álbum mais vendido de 2006 e virou um musical no gelo (que estreou nesta semana no Rio e passará ainda por São Paulo e Belo Horizonte).
Como seu predecessor, Camp Rock é farto em números musicais. O rock bobinho predomina, mas há também baladas e hip hop. A vilã é uma encarnação mirim de Britney Spears, e loira como todas as meninas más que o estúdio criou nos últimos tempos. A nova atração, porém, traz pequenas diferenças. Seus protagonistas já eram conhecidos antes. Joe Jonas faz parte dos Jonas Brothers, um dos grupos de pop mais bem-sucedidos da atualidade (seus irmãos, Nick e Kevin, participam do filme sob o nome de Connect 3). Demi Lovato é uma jovem atriz de sucesso, tendo participado por muitos anos do seriado Barney, aquele do irritante dinossauro roxo. O caso é que Camp Rock difere também na qualidade – inferior – do roteiro: é um High School Musical sem carisma, que não chega aos pés do original. E pensar que chegaria o dia de fazer esse elogio...
diretor da escola
Um dos mais tarimbados diretores de musicais do showbiz americano, Kenny Ortega foi escalado pela Disney para dirigir High School Musical. Criou um enorme sucesso e uma fórmula agora seguida por Camp Rock. Em meio às gravações de High School Musical 3, ele conversou com VEJA. O que explica o sucesso de High School Musical? O programa tem camadas. Na superfície, é apenas um musical romântico. Mas ele fala de valores como amizade, respeito e compreensão. Isso faz a diferença. O que esperar de High School Musical 3? Os fãs de Sharpay (Ashley Tisdale) não vão se decepcionar. Ela terá cenas memoráveis, nas quais poderá explorar toda a sua vilania. Sharpay é aquela menina que a gente adora odiar. Os atores de High School Musical caíram nas páginas dos tablóides. O senhor conversa com eles sobre as manchetes escandalosas? Um dos pré-requisitos na escolha dos atores de High School Musical era que tivessem um núcleo familiar sólido. Eles buscaram o apoio da família quando se viram às voltas com escândalos. Mesmo enfrentando problemas, ainda são crianças adoráveis. O senhor já dirigiu Diana Ross, Barbra Streisand, Elton John. O que é mais fácil, lidar com atores juvenis ou com divas? No fundo, as divas têm uma criança dentro delas. Você tem de ganhar a sua confiança. O melhor mesmo é lidar com profissionais, seja qual for a idade. |
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